quinta-feira, 12 de abril de 2012

Fina Estampa e os mesmos velhos rótulos

Acho que já deve ter dado pra notar que eu curto mesmo estudar televisão, sempre assisto novela, mesmo que seja só para me revoltar. "Fina Estampa" foi um bom exemplo disso, ô novelinha difícil de aturar, mas eu vi do início ao fim, então posso falar com conhecimento de causa que foi a pior novela que eu já assisti! Os personagens não fazem o menor sentido, não têm motivação nenhuma, são todos tão rasos que eu sinceramente não sei como alguém conseguiria se identificar com eles.

De qualquer forma, o que me irritou de verdade nessa novela não foi nem o fato de ser mal escrita, quilos de novelas da Globo são assim, mas cara, quando ela estava estreando, vieram aquelas chamadas pretensamente feministas - obviamente se aproveitando dessa suposta "onda feminista" que vem acontecendo no Brasil desde a posse da Dilma e das 10 ministras - e, no fim das contas, todas as personagens femininas não passam de estereótipos gastos. Vou fazer um panorama de algumas dessas mulheres, queria fazer de todas, mas o post já vai ficar grande o suficiente com as dez que eu selecionei, então vamos direto a elas:


Griselda da Silva Pereira: É a grande bandeira da novela, sinal do fim dos tempos! Quer coisa mais gasta do que masculinizar uma mulher para poder justificar sua força interior? Claro, porque personalidade forte é um traço masculino, então eles investiram nisso com tudo. Griselda é conhecida como "Marido de aluguel", "Pereirão" e "Bigoduda". Para fazer serviço de homem, ela tem de se travestir em um macacão de mecânico, mas quando ela está milionária e se veste "como uma mulher", ela pode ser frágil, chorar por amor e todos os clichês associados à "feminilidade". Como se não bastasse, sempre que precisa, Griselda tem sua masculinidade ali, à mão, na sua famosa chave de grifo, seu falo, que fica sempre em sua bolsa. Isso é que é mulher, não é não, revista Veja?


Teodora Bastos da Silva: Essa é uma mistura de estereótipos. De início, ela é a femme fatale da novela, a loira má (afinal, sempre tem uma loira má, não é?) que seduz os homens indefesos para tirar vantagem. Depois, com um empurrãozinho do bom e velho mito do amor materno, Teodora faz as vezes de filho pródigo, tentando reconquistar a confiança da família da Silva Pereira, para poder ficar perto do filho que abandonou anos atrás. Por fim, temos o estereótipo da mãe, quando Teodora engravida de seu "amor verdadeiro" (mais um estereótipo, olha aí!), a maternidade abona todos os pecados da loira, fazendo uma divisão nítida entre a mãe e a prostituta. Aliás, durante toda a novela, a personagem é diminuída, sendo chamada de piriguete, já que usa roupas curtíssimas e gosta de mostrar o corpo, apenas no fim da novela, quando decide se casar novamente com Quinzé, é que Teodora passa a ser chamada de "ex-piriguete", afinal, agora ela tem um homem a quem pertencer!


Maria Amália da Silva Pereira: Amália é a princesa encantada da história. Isso resume completamente a personagem, porque nada mais é agregado a ela. Lembra que eu disse que os personagens dessa novela são altamente superficiais? Amália serve unicamente para amar seu príncipe encantado, sofrer, perdoar e ser salva por ele. É uma personagem que corrobora aquela velha noção de que o amor verdadeiro muda tudo e vence qualquer coisa, até o mau caráter de seu namorado, que de uma hora para outra, justificado unicamente pelo amor, vira um dos maiores mocinhos da novela.



Danielle Fraser: Essa pra mim realmente foi de matar. Danielle é uma mulher bem sucedida profissionalmente, viúva, totalmente focada na carreira. É claro que isso está errado! Aonde já se viu mulher ser feliz sem homem? Ok, eu sabia desde o início que isso não ia ficar assim, que a personagem ia ser a tal da mal amada feliz na carreira e infeliz no amor e, portanto, que logo iam arrumar um homem para ela, mas tinha de ser do jeito que foi? Danielle está andando na rua, fugindo de um cara inconveniente que deu em cima dela numa festa, quando, é claro, o tal cara (Enzo), começa a segui-la na rua, assediando-a. Ela evita ele, fala que não tá afim e o cara agarra ela e a beija a força. O que ela faz depois? Denuncia na delegacia da mulher? Claro que não, Danielle percebe que vive muito sozinha e que se um cara desses a quer, ela está no lucro. Então ela chama o Enzo para subir no seu apartamento, transa com ele e os dois vivem felizes para sempre. É, rede Globo, é isso assim mesmo que acontece, a gente está louca para ser atacada na rua pelo "amor da nossa vida".


Vanessa Tavares Ribas: Como não poderia faltar, temos a típica lolita. Vanessa faz o papel da menininha que tem fetiche por homens mais velhos, ela me lembra um pouco a Mel Lisboa em "Presença de Anita", sempre com aquele olhar sedutor e comportamento travesso, porque se um homem mais velho olha para uma mocinha dessas, a culpa é sempre dela, já estamos cansadas de saber que os homens só agem por instinto, não é?




Celeste Souza Fonseca: Nada mais nada menos do que "a mulher que apanha do marido". Só que, em vez de colaborar com a Lei Maria da Penha, eles enfiam nas nossas cabeças que os maridos que espancam mudam sim, desde que a mulher tenha amor próprio e saiba se impor. Baltazar bate em Celeste diariamente, até que Griselda intervem e faz a amiga denunciá-lo, depois de parar na cadeia, ele volta a morar com a mulher, ela volta a dividir a cama com ele - aliás, as cenas de amor entre os dois são quentíssimas, sempre embaladas pelo tema "Amor covarde", de Jorge e Mateus. No fim das contas, visto que Baltazar continua violento e machista, Celeste o expulsa de casa, depois o aceita novamente, mas agora ela é quem o domina, sem nunca deixar de amá-lo. Realmente, o amor faz milagres!


Dagmar dos Anjos: A negra da novela. A Globo tem dessas coisas, sempre escolhe uma ou duas personagens para ser "a negra da novela". Quantos negros será que tem no Rio de Janeiro, né? Pois sim, como a cota é limitada, parece que eles decidem acumular um bocado de tipos em uma só personagem. Dagmar faz a mulher trabalhadora, esforçada, boa na cozinha, que cria com muito custo os filhos, sem marido por perto, tudo com uma relação de causa e consequência com sua etnia. Além disso, Dagmar também faz a mulher objeto, mais do que todas, porque é da cor do pecado. Não consegui entender por que ela é a única que toma banho de mangueira na laje, sendo que é vizinha de Celeste e Griselda.


Marcela Coutinho: Cara, eu não consigo entender como é que a Globo sempre vem falar de jornalismo sério e mimimi, sendo que toda santa novela tem uma jornalista inescrupulosa que faz de tudo para conseguir um furo, uma matéria de capa. Marcela faz a jornalista sedutora, que sempre dá aquele jeitinho de descobrir o que quer, sempre se apoiando na curiosidade inerente às mulheres de querer saber da vida dos outros. Além do mais, mulheres conseguem tudo o que querem se souberem usar seu corpo. Marcela se enfia onde não deve, descobre um grande segredo e é apagada, como toda boa jornalista.




Solange de Souza Fonseca: Também se encaixa no estereótipo lolita, mas vai um pouco além. Não sei se o Aguinaldo Silva quis fazer uma homenagem à cultura do funk, mas, se foi, epic fail para ele! Solange faz a garotinha sensualizada, sempre deixando a barriga a mostra e rebolando até o chão. Tem mais, Sol não gosta de ir à escola, porque ela prefere ficar rebolando o popozão, mas não faz mal, porque acaba que ela é um sucesso de público, no final das contas o funk vai sustentá-la!



Tereza Cristina Velmont: Deixei por último a personagem mais injustiçada. Tereza Cristina foi feita pura e simplesmente para ser a vilã, sem qualquer motivo aparente. Ela não tem história, não tem motivação e é todinha feita para você não gostar. Para começar, Tereza faz pelo menos um escândalo por dia, além de ser uma patroa terrível, sempre maltratando seus empregados. Mais ainda: ela é a rica, sangue azul, que odeia pobre. Também é uma péssima mãe e uma mulher dependente (que depois se revela uma ninfomaníaca reprimida). Ela pensa primeiramente nas aparências e em último lugar no bem estar de sua família. Não há nada que torne Tereza uma personagem identificável, ela é intrinsecamente má.

Sem mais!

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