quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Love my nose day

Hoje o relato é pessoal. Pra quem não sabe, hoje é o Love Your Body Day, ou seja, é o dia de amarmos nossos corpos do jeitinho que são, tentando escapar um pouco desses padrões absurdos que nos enfiam goela abaixo todos os dias. Hoje é dia de dizer "Não, eu não quero fazer plástica!" ou "Eu amo cada um desses pneuzinhos" ou, ainda, "Não interessa o que você acha, essa saia fica LINDA em mim!". Apesar de já estar de saco cheio de todo mundo vir reclamar comigo por causa dos meus quilos a mais, já não me importo tanto a ponto de não fazer o que eu não quero, quando e se EU, a dona do corpo, estiver interessada em emagrecer, eu resolvo.
Mas não é disso que eu quero falar. Acho que o LYBD fala sobre auto-aceitação, por isso vou falar do meu nariz. Eu sempre gostei muito do meu corpo, ainda gosto, mas só aprendi a respeitar meu nariz há muito pouco tempo. Imaginem que, lá pelos 8 anos, eu já pedia pra minha mãe pra fazer uma plástica, porque o meu nariz me deixava feia. Com 8 anos de idade eu já achava que sabia o que era ser feia!
Foi assim por muito tempo, eu diria que até cerca de 2 anos atrás, quando eu descobri que boa parte do meu problema era, basicamente, racismo. É estranho falar isso de mim mesma, mas não tem outra palavra. Meu pai é negro, minha mãe era branca e sempre me disseram que eu nasci extremamente parecida com os dois, embora eles fossem bem diferentes fisicamente. Da minha mãe, eu herdei o olhar e os cachos soltos. Do meu pai, eu herdei o formato do rosto

e o nariz.
Ouvi piadinhas a vida inteira, porque meu nariz é largo. Eu detestava meu nariz, porque as pessoas diziam que era feio, viviam me chamando de nariz-de-coxinha, nariz de batata, até de aspirador de pó, por causa do tamanho das minhas narinas. Agora, não é no mínimo suspeito eu ter sido zoada a vida inteira por um traço tipicamente negro?
Acho que o LYBD também serve para mostrar que a gente acha muita coisa bonita porque a sociedade diz que é bonito. Mas é difícil esperar espaço para o meu nariz grosso em um lugar povoado por um racismo velado. Eu penso em quanto tempo eu levei para reparar o quão estranho é Taís Araújo, Camila Pitanga, Sheron Menezes, Rihanna, Beyoncé, todas lindas, terem narizes finos, quando a grande maioria dos negros não os têm. Não é coincidência! É pelo mesmo motivo que Laren Galloway é considerado o bebê mais lindo do mundo, é porque elas são negras com traços de brancos. Não to dizendo que, por causa disso, as moças deveriam ser rechaçadas ou que não deveríamos achá-las bonitas ou, menos ainda, que elas são menos negras por conta de seus traços. Não são elas que devemos questionar, mas o padrão de beleza que nos ensinou que devemos ser diferentes do que somos para sermos considerados bonitos.
Sinto-me estúpida por ter demorado tanto tempo para perceber que o meu nariz não é um problema. Parecia ser muita vitimização achar que o problema são os outros, que tentam me ensinar o que é feio. O problema é esse discurso desculpista que diz "Não é racismo, é a minha opinião pessoal. Eu, particularmente, prefiro olhos azuis e traços europeus", só que essa opinião não tem nada de particular! Todo mundo usa essa desculpa. E é isso mesmo o que é, uma desculpa e eu não vou mais aceitá-la! Agora eu sou dona do meu próprio nariz que, aliás, fica muito bem aonde está.

Nenhum comentário:

Postar um comentário